A classe docente, em dias de greve, sobretudo quando
exclusiva de professores, tem destas coisas. Os que aderem, ficam quase sempre
calados, com medo de magoar os colegas e assim criar eventualmente inimizades
prejudiciais ao bom clima na escola. Os que estiveram quase a aderir, quase, quase,
quase, mas que, há última hora, por uma razão absolutamente fantástica,
transcendente, quase mirabolante, mas justa segundo os próprios, os leva a não
fazer greve – a sensação de que não vale a pena! Neste caso, a argumentação
segue-se em catadupa aborrecendo os ouvidos dos que fazem sempre ou quase e dos
que nunca fazem. Mas, falta-nos falar precisamente destes que nunca fazem. Não
fazem porque não fazem! Uma verdade afirmativa incontornável. Não faço, nem
quero falar disso! No dia da greve, evita passar pela sala de professores,
refugiando-se pelas salas vazias nos intervalos, e só metendo o braço na sala
de professores por entre uma porta entreaberta a custo para sacar como um relâmpago
o tão desejado livro de ponto, sem mostrar a cara aos demais fura greves, que só o reconhecem pelas riscas da manga da camisola, para
que ao outro dia não seja apontado ou abordado para falar sobre a sua opção de sempre.
Mas, havemos de convir que as greves não são sagradas e os
professores, tal como qualquer profissional, não as deve seguir cegamente
sempre e a qualquer hora. Os argumentos de quem convoca uma greve devem ser o
suficientemente fortes para convencer os demais a fazê-la. Porém, há momentos
em que o orçamento dos professores é tão apertado que quase impossibilita a
realização da greve. Disse quase, não disse impossibilita. Com um pouco de
ginástica mental, será possível fazer um corte em determinadas componentes do
orçamento familiar para fazer uma greve. Toma-se metade dos cafés, fuma-se
menos uns cigarritos, não se vai naquele mês ao Jardim Zoológico que os macacos
não se aborrecem e a coisa vai!
Quanto ao que nos traz aqui, os três tipos de professores
contratados, os que se mexem, foram-no sempre em número residual, aliás fazendo
jus ao epíteto “necessidades residuais”. São uma espécie de Dons Quixotes a
lutar contra gigantes - os sucessivos governos, que, raios, se reproduzem como coelhos
desalmados sempre com a mesma linha genética antiFP (FP = Função Pública!). Estes
professores lutaram quase sempre isoladamente, embora com grande convicção,
pelos seus direitos. E sempre esbarraram na arrogância dos coelhos, na inércia dos
convocadores de greves, e na letargia dos outros colegas contratados. Bom, depois há os tais colegas contratados que
quase se mexem (que são a maioria(?) ou quase!), e que só estão à espera de um
impulso que os façam mexer. Isolados na sua melancolia, ainda não se
aperceberam que a depressão provocada pela precariedade laboral se resolve em
grupo, em que tu sendo igual a mim na situação em que estás, me vais dar força
e eu a ti, e juntos daremos ainda mais força a outros que a replicarão aos
demais colegas contratados, numa onda de cura de depressões provocadas por graves precariedades laborais. Agora, ficar parado, em casa ou em frente à escola
à hora dos ex-colegas efetivos entrarem é que não! Chame-nos Clube dos
Contratados Anónimos, ou o que quiserem, mas que raio, o que é melhor?...
Quanto ao terceiro tipo de professores contratados, os que
nunca se mexerão, desculpem, mas são os parasitas do sistema. Passo a explicar:
não fazem greves, têm medo de tudo, julgam que a coisa está garantida por pouco
que seja, estão muito bem considerados pelas direções das escolas, e não pensam
grande coisa acerca do futuro que não promete!
Assim, só podemos contar com os primeiros e com a segunda
classe de professores contratados. Portanto o trabalho está em convencermos este segundo tipo
de professores. Apostaria que nem os vamos precisar de convencer. É só esperar
pelo dia 1 de Setembro!
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