sábado, 11 de agosto de 2012

A obsessão: O Processo, de Krafto


As escolas apresentam dois tipos de professores: os do quadro e os descartáveis. Nos primeiros não se toca no que se refere a desemprego, pois isso agora implicaria um processo de indemnização que não seria possível o país aguentar, pelo que é melhor aguardar por melhores dias. Quanto aos contratados, as contas são simples: como andam a substituir senhoras grávidas, sendo que alguns há vinte anos o fazem, com horários anuais, porque felizmente neste nosso país, considerado o mais avançado nos apoios sociais, existem espetaculares licenças de maternidade, imagine-se, de um ano inteirinho! Também o pessoal quando fica doente é logo um ano inteiro! É incrível, mas em Portugal, quando se adoece é no mínimo durante um ano o que não deixa de ser impressionante e nos coloca à cabeça dos países mais desenvolvidos também no apoio à doença!
Os professores contratados são assim colocados no âmbito de um processo de colmatação de necessidades temporárias ou residuais, sendo por isso considerados, no âmbito desse mesmo processo, de há muitos anos a esta parte, professores sem quadro, provisórios, temporários, cujo número no sistema é residual, mesmo que em algumas escolas já sejam 80% dos professores em exercício de funções!
Os professores do quadro, no âmbito do processo, terão agora de trabalhar mais horas, com um número maior de alunos e com salários congelados e abaixo da tabela.
Os professores contratados, no âmbito deste processo, atingirão o seu pleno, fazendo jus aos epítetos que lhes foram atribuídos premonitoriamente nos últimos anos, nomeadamente, o mais importante de todos - professores temporários. Assim, a partir do dia 1 de Setembro serão finalmente em número residual e colmatarão, é mais que certo, as reais necessidades residuais.
 Residuais! Pois, porque finalmente o processo de emagrecimento foi consumado com êxito!
 E dirão alguns:
- certo, mas a responsabilidade não é de quem decide, esta crise toda tinha de ser resolvida com um processo de despedimento coletivo de professores contratados!
Ui! Alto lá! Não lhe podemos é chamar assim…,  para não chocar o pessoal, pois a maior parte nem imagina que vai ser vítima deste processo!
O processo está assim em processamento, e o pessoal a atingir está chocado, mas sereno, com medo, mas sereno, sem forças, inerte, sereníssimo!
 O medo de represálias, que não me renovem o contrato, é tramado. O que os “residuais” não sabem é que, no âmbito do processo, a renovação já era, pois os professores com horários zero lá virão de outras escolas, em passo lento mas seguro, ocupar a vaguita que eu julgava ser para mim! Portanto, a m… do processo vai atingir todos, também a mim, não haja ilusões. Mas se as houver, em 31 de Agosto a malta vai cair em si!
As listas de graduação deste ano e as listas de colocação dos anos anteriores são um processo ilusório absolutamente alucinante para aqueles professores contratados mais velhos que se julgam a salvo desta confusão. Mas a coisa é real meus caros colegas!… a coisa é realíssima, o desemprego vem aí, com contornos macabros da SOLUÇÃO FINAL, no âmbito do processo de emagrecimento verdadeiramente anorético das escolas, cujas gorduras foram consideradas em devido tempo como sendo precisamente os professores contratados. Os do quadro, enfim… serão considerados pela OCDE verdadeiros exemplos a seguir, modelos de elegância educacional que, embora escanzelados pelo excesso de trabalho, resultado deste processo, tem o céu garantido!
 E logo surgirão mais uns estudos encomendados pelos mentores do processo, cujas conclusões serão unânimes:
“ Os professores portugueses são felizes!”
Meus caros, é o PROCESSO!

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