As organizações sindicais parecem estar a mudar. E queremos que mudem, não tão devagar que nos façam arrepender da espera. Mas com a idade a espera é tendencialmente desprovida de paciência, pois o relógio da vida não pára, sendo imprescindível que quem diz que quer atuar o faça no curto prazo, com a colaboração dos professores contratados, mas que o façam.
Estamos numa encruzilhada em que as organizações sindicais ou fazem efetivamente o que já devia ter sido feito há muito tempo, ou os professores contratados arranjarão outras vias de atuação, certamente com prejuízos para estas organizações, potencialmente de defesa da classe docente, de toda. Não é crível que se vá continuar a não agir com eficácia, porque agir sem resultados, foi de muitos anos, arranje-se as desculpas que se arranjarem, não chega!
A nossa memória de contratados não é curta, mas o certo é que não devemos apontar o dedo demasiado hirto, para já, àqueles que têm obrigação de nos defender. O alheamento desta obrigação não pode mais ser justificado só pela bandeira do fraco envolvimento dos professores a contrato, porque a luta faz-se na rua mas também nos tribunais, sobretudo do Tribunal de Justiça da União Europeia pelo não cumprimento desde há onze anos da Diretiva 70/1999/CE, e isto não tem sido fácil admitir ao longo de mais de uma década pelas organizações sindicais, como se de um tabu se tratasse. Não, não é!
Mas, a este nível, os professores contratados ou começam também a mexer-se e a incentivar as organizações sindicais a defenderem-nos junto das instituições judiciais, ou vão sempre ouvir a desculpa dos seus dirigentes acerca do seu fraco envolvimento. Exigir que as organizações sindicais atuem não basta. Mesmo sabendo que os seus dirigentes terão a noção que a coisa se resolve com ações judiciais, é preciso apontar-lhes esse caminho. Até agora os professores contratados estavam demasiado dispersos nas suas intenções. Mas, os sindicatos deverão ter a noção que, uma vez chegados a um certo patamar, os professores contratados levarão por diante essa exigência de atuação, sendo certo que, a não atuarem, estas organizações terão de prestar contas mais cedo do que tarde. Os tempos estão a mudar e as batalhas podem ganhar-se com uma arma muito simples mas certamente a mais eficaz de todas as armas: a consciencialização, do que se faz, ou se deixa de fazer. E os professores contratados acabaram de aprender a atuar, pressionando, exigindo, com método e dispostos a ir até onde for preciso. Também no âmbito de uma colaboração estratégica com as organizações sindicais, certamente, mas com duas exigências que se fundem numa só: sem manipulações, com verdade.
Aos colegas contratados, aos que pensam que as organizações sindicais fazem um trabalho solitário em prol da nossa causa, desenganem-se, não será por aí que verão ação. O processo enzimático que despoletará essa atuação de quem tem obrigação de a levar por diante, carece de professores contratados ativos, que se envolvam dentro dos próprios sindicatos mas também fora deles. Que exijam que todas as vias sejam exploradas, além das que se têm mostrado inertes perante uma passividade calculada de um poder político pouco dado a pressões de setores ligados ao fenómeno da precariedade.
O mundo confortável do politicamente correto está a esvair-se perante um despoletar de consciências sindico-ecológicas que aos poucos, de fora para dentro, estão a exigir ação às organizações sindicais. Se não atuarem é claro que não podem esperar bons resultados em termos de saúde para as suas organizações, pois os contratados despertaram e mais despertarão num futuro próximo sobretudo pela conjugação de três fatores: precariedade na idade da consciência de que é preciso atuar, um desemprego nunca previsto mas agora eminente, uma força crescente despoletada pelas redes sociais a partir das quais estão a emergir atuações incisivas no mundo real.
O mundo está a mudar tal como algum aparelho estático das organizações sindicais o fará bem depressa, pois em causa está também a boa saúde destas organizações, algo doentes, com um diagnóstico consumado, mas de cura possível.
Pela vinculação dos professores contratados.
Jorge Costa
Jorge Costa