Os mais jovens vêem-se na eminência de um SOS permanente até aos 40 de idade, no mínimo, até que os que estão em termos etários mais à frente lhes possam dar lugar. Não é raro agora a adolescência prolongar-se pelo menos até aí, por via da situação de dependência em relação aos progenitores até tão avançada idade. Voar sozinho tornou-se penoso nos tempos que correm, tempos de vacas esqueléticas quase a morrer, e de muitas já bem mortas há muito tempo, a cheirar mal. Os sinais evidentes de saturação dos filhos que pedem para o dia-a-dia à mãe às escondidas do pai, ou ao pai com o conhecimento da mãe deixou de ser raro para se tornar o pão nosso de cada dia por essas vilas e aldeias de Portugal. Mas por aí ainda há a terra que é de quem a trabalha e que em muitos casos começa a ser limpa de ervas daninhas até pela malta licenciada noutras coisas que não a agricultura. É um recurso evidentemente transitório, mas que vai dando um sentido à vida provisória de jovens cada vez mais velhos, muitos licenciados à procura do primeiro emprego, estável se fosse possível sonhar. Mas, já não lhes é permitido sonhar a curto e médio prazo com essa estabilidade e por tal muita coisa vai ficando adiada como a procriação que dantes era pelos vinte e que agora vai para os trinta e muitos, quarenta e tal anos, pois a incerteza é grande em termos de sustentabilidade de uma débil economia familiar. Ou a evolução da espécie acompanha os constrangimentos da economia capitalista das sociedades ocidentais economicamente decadentes, e o ser humano na sua vertente geracional aumenta sem problemas a idade média de procriação, ou o número de nascimentos decairá abruptamente pela infertilidade de mulheres cada vez mais velhas a tentarem gerar filhos em ambientes extremos, venenosamente stressantes, de uma vida recheada de incerteza com um cariz profissional provisório, de recibo verde que até poderia significar “procriem” se a autorização viesse de um departamento governamental cujo ticket retirado de um balcão de atendimento, pela cor significasse via verde para a procriação, uma espécie de simplex da vida, uma garantia emprego no Estado ou numa empresa privada protocolada para o efeito em troca da geração de novos cidadãos. Mas a realidade é dura, e vivendo à custa dos pais, sempre à espera do emprego que nunca mais chega para finalmente dar à luz, a mulher vê-se na eminência de deixar passar a sua idade fértil e de nunca saborear o prazer da maternidade.
O SPGL tem uma secção denominada “Jovens professores Contratados”, que deu muito jeito para nunca fazerem grande coisa pelos professores contratados na última década, a não ser alguns números de circo em frente ao ME. Está no tempo de alterarem a denominação para “Velhos professores contratados”, porque a primeira denominação já não corresponde à realidade desde há muito tempo a esta parte.
Pois, é também na classe docente contratada e desempregada que se coloca este problema da maternidade adiada ad eternum. À espera de uma colocação para fazer um filho!
- Mãe, fiquei colocada, agora vou dar-te um neto, que dizes da ideia?
- Sim filha, é uma ideia porreira… Mas já te efetivaram numa escola?
- Não mãe, mas fiquei com um horário de oito horas, e… com mais aquilo que me tens dado, acho que chegou o momento, afinal já só tenho 38 anos e nunca tive uma oportunidade assim!
- E o teu companheiro o que diz disso?
- Ele também conseguiu um horário temporário de um mês numa escola lá pro Algarve. A última vez que falei com ele, disse-me que se fosse pra avançar vinha cá aos fins de semana pra irmos tentando. Então, que achas, posso fazer um filho ou não? Vá lá mãe, qualquer dia chega-me a menopausa e depois fico sem nada!
- Está bem filha, não te preocupes, vou mudar os lençóis do quarto de hóspedes!...Manda vir o rapaz do algarve.
- Mãe, mãe… és a melhor mãe do mundo… finalmente vou realizar o meu sonho! Quem dera que o pai ainda fosse vivo para ver o netinho nascer!... Sei que nunca nos deixarás passar necessidades, a mim ao meu filho e teu neto e ao meu namorado, o Asdrubal que está no Algarve com um contrato de um mês na escola de Albufeira. Obrigado mãe…(lágrimas, muitas).
Nesse momento, na televisão surge Gasparzinho, o malandreco, com cara de sono, dizendo: blá, blá, blá…, pois vamos reduzir as pensões para metade, ACABAR COM A PENSÃO DE VIUVEZ, acabar definitivamente com o abono de família, acabar com o subsídio de maternidade, criar um imposto extraordinário sobre a procriação…blá, blá, blá!...
(post bis de J. Costa)
(post bis de J. Costa)
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