Exercício 1 - Guinote, vamos imaginar que és um professor contratado, neste preciso momento, que não tens salário garantido a partir do dia 1 de setembro, que não sabes o que vais fazer no próximo ano, se dar aulas com horário completo ou incompletísssimo, se vais ou não voltar àquela caixa de Hipermercado como já te aconteceu, ou mesmo se o Belmiro te vai deixar ir para lá. O que pensas fazer para resolver o teu problema?
Exercício 2 - Tens dois filhos pequenos em idade escolar. estiveste no ano passado com horário incompleto e a tua mulher, professora contratada, nem sequer trabalhou nos dois últimos anos, e a miséria do subsídio de desemprego está prestes a terminar. O que pensas fazer para resolver o teu problema?
Exercício 3 - Tu e a tua mulher são professores contratados há vinte anos, fizeram um crédito à habitação e não têm nenhuma casa em Fafe para vender. A partir de setembro, sem rendimentos que cubram as despesas, como vais pagar o sítio onde dormes todos os santos dias?
Exercício 4 - Andas desesperado, sem dormir, num mês que devia ser de descanso. O problema de saúde que te afeta leva-te um orçamento significativo do teu ainda ordenado. Como vais fazer para te continuares a tratar?
Exercício 5 - Há vinte anos que andas a contrato precário, ano após ano tens esperado que se cumpra a lei geral do trabalho, ou seja que, embora tardiamente, finalmente te façam justiça, porque nem sequer tens dinheiro para ires a tribunal com o MEC. Como achas que vais resolver a mordaça que te andam a pôr há vinte anos?
Exercício 6 - Quando chegas a casa do trabalho, a tua filha pergunta-te: paizinho, no próximo ano vais ficar outra vez sem me ver durante toda a semana? Vais para longe outra vez? O que lhe vais responder?
Exercício 7 - Foste obrigado a concorrer a duas mega-zonas pedagógicas no concurso para contratação. És de Lisboa e ficas com um horário de 8 horas em Ourém. Acreditas que a Nossa Senhora de Fátima te vai resolver o problema dos gastos?
Exercício 8 - Quando te queixaste numa caixa de comentários da tua situação precária, logo um conjunto de professores bem instalados num qualquer quadro te caíram em cima a dizer que nunca te efetivaste porque nunca concorreste para longe. Sabendo tu que nos concursos para efetivação sempre concorreste a todo o país e regiões autónomas e nunca conseguiste lugar de quadro porque nunca abriram vagas que a ti chegassem, ou mesmo a ninguém, porque nem uma foi aberta sem que se fechassem dez, porventura não sentiste vontade de esmurrar as galinhas mimadas que acabaram de te insultar?
Exercício 9 - Ao fim de vinte anos de profissão mal paga para que outros tivessem o seu conforto garantido nas escolas, ainda continuas a achar que te respeitam, governos, sindicatos dos professores do quadro e os bloggers da praça com clientela fixa?
Exercício 10 - Levas com umas falinhas mansas de um cavalheiro dono de um blog que cresceu à luz da contestação dos professores do quadro à avaliação de desempenho em 2009, que nada de mal tem que assim tivesse sido, mas que se esqueceu da sua condição anterior de contratado para aconselhar os desgraçados como tu a repensarem o futuro profissional aos 46 anos de idade. Quando ouviste o gajo dizer que os contratados estão tramados, que não há solução, que nem vale a pena lutarem por uma vinculação porque nunca a hão-de ter, não te pareceu que a figura queria era evitar que lhe esvaziassem a pança?
Exercício 11 - Não achas do diabo que a figura mediática nos canais fechados aconselhe os professores contratados a aceitarem a sua desgraça, sem reagir, baixando os braços, dando margem para que depressa os do quadro voltem às progressões na carreira, enquanto tu e a tua mulher, contratados há mais de vinte anos vão percorrendo o caminho da miséria? Não te apetece mandar a figurona a lado nenhum, mesmo correndo o risco de seres um menino muito mal educado?
Exercício 12 - Sê lá sincero se vires que consegues! Não achas que, não bastando sindicatos que te negaram a defesa durante vinte anos e governos que agradeceram a esses mesmos sindicatos mantendo os seus dirigentes e a prole por muitos e bons anos no poleiro, os "independentes", digo os bloggers, te deveriam defender com unhas e dentes?! Ainda pensas que eles são todos por ti? Quando vais começar a passar-lhes ao lado e seguir as tuas convicções na tua luta pela vinculação, pelo respeito pelo teu passado profissional, pelo alimento dos teus filhos, pelo teu bem estar, pela tua dignidade?
Nota: Este caderno de exercícios não engloba soluções para os problemas apresentados. O aluno deve resolvê-los com o rigor necessário para mudar de vida!
Muito Bom
ResponderEliminarParabéns.
Carla Valentim, contratada
Bom dia, colega.
ResponderEliminarConcordo consigo, mas acho que o Guinote não vai fazer nenhum esforço para se colocar no lugar de um contratado, até porque, segundo as suas palavras (e as palavras de muitos), também já o foi. Esquece-se que, ser hoje contratado, é muuuuito diferente de ser contratado há 15 anos. Eu posso falar disso, porque sou contratada há 18 e sei o quanto estou pior atualmente, mas adiante.
Muitos problemas no ensino poderiam ser resolvidos se não existissem interesses instalados como há. Vou dar só um exemplo: bastava que os professores "do quadro" abdicassem duma parte do seu vencimento para que houvesse nas escolas mais professores, menos alunos por turma e maior apoio pedagógico sem o MEC gastar mais dinheiro. Ora, isso não interessa nada aos que se dizem defensores de um ensino de qualidade, aos que lamentam (e aos que não lamentam) a situação dos professores contratados e desempregados.
Não. Nada disso interessa aos Srs que estão no quadro por mérito próprio...o que importa mesmo, é saber quando vão descongelar a carreira e quando vão chagar ao idílico 10º escalão que, tão injustamente, foi retirado. Estes são os verdadeiros problemas. Para estes professores a luta deve incidir nestas questões e não noutras que digam respeito aos contratados, aos próprios alunos e à educação nacional.