A chico esperteza definitivamente tomou lugar no negócio da educação!
A governança vai enchendo a pança daqueles administradores de grupos
ligados ao negócio da educação. Como se esta pudesse ser matéria de
contrafação. Os colégios com contrato de associação, salvo honrosas exceções,
andam a retirar dinheiro a rodos dos cofres públicos, como se de um tesouro
infindável se tratasse. Os amigos da governança encarregam-se de atirar umas
centenas de milhar de Euros, por vezes milhões, para cima das administrações
destes colégios com CA.
Mas façamos o seguinte exercício: Os oitenta e tal mil euros
que se dão a estes colégios seriam mesmo necessários para manter uma turma
na escola pública? Estas turmas terão mesmo necessidade de estarem numa escola
com CA quando existem por perto escolas públicas às moscas? Estas são as
perguntas tradicionais e fáceis que estamos fartos de ouvir e cuja resposta é
relativamente simples de encontrar.
Mas é necessário irmos ao cerne da questão, com uma explicação
que torna inertes os argumentos daqueles que defendem a liberdade de escolha
entre público e privado e os cheques ensino e outras patetices, que usam para
formatar as opiniões das mentes quadradas. Imaginemos assim que eu tenho um
colégio privado. Quero clientela. O pessoal das redondezas é pobre de mais para
eu aguentar o negócio e por isso há que usar a imaginação. Depois de pouco
pensar eis que surge a ideia mágica que me resolverá todos os problemas de
sobrevivência financeira: tenho um amigo bem relacionado com certos carolas da
governança. Convenço-os a convencerem esse pessoal da política que a escola
mais próxima está a três quilómetros da minha e que tenho pessoal a contrato
muito eficiente para educar a criançada, o que é um bom motivo para a
iniciativa privada. Mas o que me dá mais gozo é que na onda da privatização os
gajos aceitam a minha proposta e começam a mandar-me os euros que eu pedi para
isto tudo e para muito mais.
Claro que há uma diferença com o público, é que enquanto nas
escolas públicas não há dinheiro de sobra para mais nada, já aqui, no privado,
o dinheiro tem de sobrar também para mim que sou administrador, que montei este
negócio para ganhar a vida, a boa vida, senão porque é que me meteria nestas andanças?!
É claro que os oitenta e tal mil euros por turma têm de dar
para isto tudo. Ou seja, ao dizer-se que numa escola pública o pessoal gasta em
média os oitenta e tal, então no privado com CA eu consigo gerir tão bem o
dinheiro que faço sobrar uma fatia generosa para mim enquanto administrador. Os
alunos ficam a perder alguma coisa mas quem está fora não nota nada e os
rankings ajudam de caraças. Mas milagre milagre, aqui que ninguém nos ouve, é o
que eu faço com os salários dos professores. Como a “mão de obra” é mais
extensa do que a oferta, jogo bem com isso e a maioria dos meus professores ou
são contratados ou estão aqui a fazer umas horitas para ganharem mais uns
cobres nestes tempos difíceis. Enfim, como sou eu que mando é fácil dominar as
emoções, mantendo-os com rédea curta em termos salariais e outras coisas que
não posso aqui dizer. Não me queixo do que me dá este negócio com o Estado. É
preciso que a malta continue a insistir nas pseudo-virtudes do privado, que
assim os ingénuos continuam a financiar este negócio sem repararem que pelo
mesmo preço ou menos têm os alunos nas escolas públicas.~
Depois deste estudo de caso introvertido, resta dizer que a ingenuidade
não é de quem insiste no verniz do ensino privado, mas daqueles que se deixam
iludir com a fantasia imaginada por comentadores do sistema, peças de uma engrenagem cuja teia se prolonga da província até à grande capital. Mas pior, com
a complacência dos “quadrados” fora deste sistema, os pagadores de impostos, os
alvos fáceis dos oportunistas da coisa pública.
Moral desta história: se te metes no negócio de sacar
dinheiro ao Estado através de um Contrato de Associação, finge que o dinheiro
que recebes é todo para educar as crianças e faz-te chorar por com nada ficares!
Afinal a tua escola não é um negócio, é um meio de desenvolver a tua terra que
tantos estimas e amas!
PS: Há casos e casos, mas é necessário perceber em quais é que esta "história" se enquadra.
Receio bem que nem seja preciso andar muito para
perceber onde...
Mas sei bem o que faria em relação a estes negócios da China!
É mesmo uma questão de princípio!