terça-feira, 5 de março de 2013

Esta coisa estranha dos contratos de associação


A chico esperteza definitivamente tomou lugar no negócio da educação!

A governança vai enchendo a pança daqueles administradores de grupos ligados ao negócio da educação. Como se esta pudesse ser matéria de contrafação. Os colégios com contrato de associação, salvo honrosas exceções, andam a retirar dinheiro a rodos dos cofres públicos, como se de um tesouro infindável se tratasse. Os amigos da governança encarregam-se de atirar umas centenas de milhar de Euros, por vezes milhões, para cima das administrações destes colégios com CA.

Mas façamos o seguinte exercício: Os oitenta e tal mil euros que se dão a estes colégios seriam mesmo necessários para manter uma turma na escola pública? Estas turmas terão mesmo necessidade de estarem numa escola com CA quando existem por perto escolas públicas às moscas? Estas são as perguntas tradicionais e fáceis que estamos fartos de ouvir e cuja resposta é relativamente simples de encontrar.

Mas é necessário irmos ao cerne da questão, com uma explicação que torna inertes os argumentos daqueles que defendem a liberdade de escolha entre público e privado e os cheques ensino e outras patetices, que usam para formatar as opiniões das mentes quadradas. Imaginemos assim que eu tenho um colégio privado. Quero clientela. O pessoal das redondezas é pobre de mais para eu aguentar o negócio e por isso há que usar a imaginação. Depois de pouco pensar eis que surge a ideia mágica que me resolverá todos os problemas de sobrevivência financeira: tenho um amigo bem relacionado com certos carolas da governança. Convenço-os a convencerem esse pessoal da política que a escola mais próxima está a três quilómetros da minha e que tenho pessoal a contrato muito eficiente para educar a criançada, o que é um bom motivo para a iniciativa privada. Mas o que me dá mais gozo é que na onda da privatização os gajos aceitam a minha proposta e começam a mandar-me os euros que eu pedi para isto tudo e para muito mais.

Claro que há uma diferença com o público, é que enquanto nas escolas públicas não há dinheiro de sobra para mais nada, já aqui, no privado, o dinheiro tem de sobrar também para mim que sou administrador, que montei este negócio para ganhar a vida, a boa vida, senão porque é que me meteria nestas andanças?!

É claro que os oitenta e tal mil euros por turma têm de dar para isto tudo. Ou seja, ao dizer-se que numa escola pública o pessoal gasta em média os oitenta e tal, então no privado com CA eu consigo gerir tão bem o dinheiro que faço sobrar uma fatia generosa para mim enquanto administrador. Os alunos ficam a perder alguma coisa mas quem está fora não nota nada e os rankings ajudam de caraças. Mas milagre milagre, aqui que ninguém nos ouve, é o que eu faço com os salários dos professores. Como a “mão de obra” é mais extensa do que a oferta, jogo bem com isso e a maioria dos meus professores ou são contratados ou estão aqui a fazer umas horitas para ganharem mais uns cobres nestes tempos difíceis. Enfim, como sou eu que mando é fácil dominar as emoções, mantendo-os com rédea curta em termos salariais e outras coisas que não posso aqui dizer. Não me queixo do que me dá este negócio com o Estado. É preciso que a malta continue a insistir nas pseudo-virtudes do privado, que assim os ingénuos continuam a financiar este negócio sem repararem que pelo mesmo preço ou menos têm os alunos nas escolas públicas.~

Depois deste estudo de caso introvertido, resta dizer que a ingenuidade não é de quem insiste no verniz do ensino privado, mas daqueles que se deixam iludir com a fantasia imaginada por comentadores do sistema, peças de uma engrenagem cuja teia se prolonga da província até à grande capital. Mas pior, com a complacência dos “quadrados” fora deste sistema, os pagadores de impostos, os alvos fáceis dos oportunistas da coisa pública.

Moral desta história: se te metes no negócio de sacar dinheiro ao Estado através de um Contrato de Associação, finge que o dinheiro que recebes é todo para educar as crianças e faz-te chorar por com nada ficares! Afinal a tua escola não é um negócio, é um meio de desenvolver a tua terra que tantos estimas e amas!

PS: Há casos e casos, mas é necessário perceber em quais é que esta "história" se enquadra.
 Receio bem que nem seja preciso andar muito para perceber onde...
Mas sei bem o que faria em relação a estes negócios da China! 
É mesmo uma questão de princípio!