sábado, 16 de março de 2013

A insustentável leveza da democracia - uma crónica das causas profundas do sofrimento do nosso povo

Para uns a democracia é a possibilidade de os cidadãos se exprimirem só nas urnas e de quatro em quatro anos. Para outros, a de poderem falar mesmo que ninguém os ouça. Para outros ainda, democracia é comer calado e não bufar. Há ainda aqueles que pensam que democracia é uma aceitação das diferenças mas sem confrontar, sem magoar. E há aqueles que entendem a democracia como a possibilidade de fazer algo que possa fazer sofrer os demais com a comodidade da aceitação das vítimas por legitimação do voto passado. O termo é grato a todos, mas dentro dos limites estabelecidos por cada um. Por isso todos apreciam ou dizem-no apreciar, aquele momento de viragem que foi o 25 de Abril de 1974. Uns porque se identificaram com aquele momento de libertação por finalmente poderem falar, bem ou mal, mas falar. Outros porque, embora geneticamente entrosados com o regime anterior, viram a oportunidade de reaprenderem a ação futura da ditadura travestizada de democracia, o que lhes exigiu o apuramento da arte deles, a arte maquiavélica do fingimento para a indignidade.

Hoje esta tendência persiste e os meninos de coro tomaram o poder no regime democrático criado pelos militares de abril sem que vislumbrassem onde poderia descambar este país. Os que nos “pedem” agora sacrifícios não o pediriam em 24 de abril, aí pura e simplesmente levariam a coisa à prática. Mas o efeito seria o mesmo. Só que aí até diríamos que eles comem tudo e não deixam nada. Agora, sabemos que comem tudo, mas não podemos dizer se é carne ou peixe. Ou seja, apesar de tudo, as bestas do passado eram mais sinceras que as do presente, e aí o povo lutava com coragem pela calada da noite daquela ditadura. O problema hoje é a malta saber que vive numa ditadura encapotada de democracia, mas ter medo de tomar a luta sem ser só com a brandura de um lenço branco!

A nossa rainha de Portuglaterra mantém-se no trono servil à cor vigente e não desprega nem toma uma atitude de demissão dos que atormentam o povo santo. Pois se não há democracia no sistema como chegarmos a uma democracia mais próxima da DEMOCRACIA.
Poderíamos corrigir isso dando em primeiro lugar hipótese aos cidadãos de concorrerem à casa mãe da democracia, o Parlamento, sem estarem vinculados a nenhum partido político. – Mas os partidos não querem!

Poderíamos deixar à consideração do povo de, ao fim de cada ano de governação, depois de uma consulta através de sondagem supervisionada, decidir se o governo deve ou não continuar. – Duas consultas sucessivas negativas implicariam a substituição do governo nas urnas. Deste modo a atuação governamental abusiva diminuiria drasticamente, sabendo que o prazo de governação estava mais curto e sob supervisão. Seria assim diminuído o tempo disponível para a má governação.

A “democracia”, assim pomposamente e abusivamente denominada atualmente, a que conhecemos, tem um curto período de 24 horas, o dia das eleições! Portanto, duas eleições sucessivas são entremeadas por um longo período de 4 anos menos um dia de ditadura!

Porque é que muita gente não quer a mudança?

A “segurança” da democracia encapotada permite não ter de agir como numa ditadura!
Este é o verdadeiro busílis do sistema político vigente aqui e em todo o lado – dá mais jeito ter medo do que ter de agir.

O povo não é a minoria, eles é que são!

Entretanto o nosso povo continua a sofrer a valer!