Para uns a democracia é a possibilidade de os cidadãos se
exprimirem só nas urnas e de quatro em quatro anos. Para outros, a de poderem
falar mesmo que ninguém os ouça. Para outros ainda, democracia é comer calado e
não bufar. Há ainda aqueles que pensam que democracia é uma aceitação das
diferenças mas sem confrontar, sem magoar. E há aqueles que entendem a democracia
como a possibilidade de fazer algo que possa fazer sofrer os demais com a
comodidade da aceitação das vítimas por legitimação do voto passado. O termo é
grato a todos, mas dentro dos limites estabelecidos por cada um. Por isso todos
apreciam ou dizem-no apreciar, aquele momento de viragem que foi o 25 de Abril
de 1974. Uns porque se identificaram com aquele momento de libertação por
finalmente poderem falar, bem ou mal, mas falar. Outros porque, embora
geneticamente entrosados com o regime anterior, viram a oportunidade de
reaprenderem a ação futura da ditadura travestizada de democracia, o que lhes
exigiu o apuramento da arte deles, a arte maquiavélica do fingimento para a indignidade.
Hoje esta tendência persiste e os meninos de coro tomaram o
poder no regime democrático criado pelos militares de abril sem que vislumbrassem onde poderia descambar este país.
Os que nos “pedem” agora sacrifícios não o pediriam em 24 de abril, aí pura e simplesmente levariam a coisa à prática. Mas o
efeito seria o mesmo. Só que aí até diríamos que eles comem tudo e não deixam
nada. Agora, sabemos que comem tudo, mas não podemos dizer se é carne ou peixe.
Ou seja, apesar de tudo, as bestas do passado eram mais sinceras que as do
presente, e aí o povo lutava com coragem pela calada da noite daquela ditadura.
O problema hoje é a malta saber que vive numa ditadura encapotada de democracia,
mas ter medo de tomar a luta sem ser só com a brandura de um lenço branco!
A nossa rainha de Portuglaterra mantém-se no trono servil à
cor vigente e não desprega nem toma uma atitude de demissão dos que atormentam
o povo santo. Pois se não há democracia no sistema como chegarmos a uma democracia
mais próxima da DEMOCRACIA.
Poderíamos corrigir isso dando em primeiro lugar hipótese
aos cidadãos de concorrerem à casa mãe da democracia, o Parlamento, sem estarem
vinculados a nenhum partido político. – Mas os partidos não querem!
Poderíamos deixar à consideração do povo de, ao fim de cada
ano de governação, depois de uma consulta através de sondagem supervisionada, decidir
se o governo deve ou não continuar. – Duas consultas sucessivas negativas
implicariam a substituição do governo nas urnas. Deste modo a atuação governamental
abusiva diminuiria drasticamente, sabendo que o prazo de governação estava mais
curto e sob supervisão. Seria assim diminuído o tempo disponível para a má
governação.
A “democracia”, assim pomposamente e abusivamente denominada
atualmente, a que conhecemos, tem um curto período de 24 horas, o dia das eleições! Portanto, duas eleições sucessivas são entremeadas por um longo período de 4 anos menos um dia de
ditadura!
Porque é que muita gente não quer a mudança?
A “segurança” da democracia encapotada permite não ter de
agir como numa ditadura!
Este é o verdadeiro busílis do sistema político vigente aqui
e em todo o lado – dá mais jeito ter medo do que ter de agir.
O povo não é a minoria, eles é que são!
O povo não é a minoria, eles é que são!
Entretanto o nosso povo continua a sofrer a valer!