Se esta vinculação fosse nos moldes desejados por Crato tal significaria que se estaria a admitir a premissa da naturalidade de um uso dos colegas contratados anos e anos a baixo custo, sem fatura, sem que lhes fosse sequer reconhecido o direito de exigirem ser reconhecidos como os outros professores, os dos quadros.
O abuso a que estiveram sujeitos, pela miséria de
salários que foram obrigados a receber numa qualquer caixa de MB, longe dos
olhares dos colegas dos quadros, sem misturas, em silêncio, mordendo os lábios
de revolta por sofrerem em silêncio.
Um professor que trabalhou oito, dez, quinze, vinte anos com
frágeis contratos, facilmente quebráveis, muitas vezes sem ter oportunidade de os
completar para fazer um único e tão desejado ano completo de serviço, vê-se
agora arredado do direito a vincular.
Este caráter invasivo da relação do ME com estas
vítimas de bulliyng laboral, com estes colegas contratados de longa duração, dá uma visão horrenda da verdadeira
natureza de quem pode fazer mal a um ser humano. E
asseguro não estar a falar só de quem governa ou governou, mas também dos "defensores" oficiais dos professores, os encartados para o efeito. Mas desses já muito disse noutras épocas da luta.
Pois assim, a estes amigos professores como nós mas sem
direitos iguais, está-se a dizer: se não tens anos completos de serviço esquece
a tua vida como professor(a)!!!
Se isto não é torturar então podem dar-me um tiro
e calo-me de uma vez por todas!
Um colega pode ter 12, 15 anos de serviço sem nunca ter tido
um horário completo. Vão fazer-lhe o quê, mandar o professor para o Júlio de Matos
ou para o Conde Ferreira por não ter recuperado de uma depressão que lhe atiraram para cima ao tirar-lhe quase tudo?!
Porque é certo que lhe vão dar cabo da vida. E o pior de tudo é que
provavelmente o colega nem conseguirá chegar a essas mui respeitáveis instituições pelo próprio pé!
Atirar estes professores para fora do sistema é de uma violência psicológica que poderá facilmente desabar no desespero
com contornos de quase loucura anunciada, e isto não se faz a ninguém senhor ministro Crato!
Estes professores já há muitos anos que andam de tanga, quer
Crato tirar-lhes o resto, e os outros, os defensores oficiais, vão ficar
calados a defender o défice do reino?
Podia estar calado, mas não quero nem vou!...
Desculpe-me Crato, mas não consigo alinhar com injustiças, nem dele nem de quem deve
defender estes colegas já tão humilhados.
Podia estar calado, que materialmente a coisa não me tocava, mas não
suporto ver as pessoas com quem convivo todos os dias enlouquecerem aos poucos, é coisa que me aborrece!
Os professores contratados já sofreram o suficiente com esta espécie de
escravatura dos tempos modernos, mal pagos, humilhados, sempre avaliados, deturpados, sugados
até ao tutano, e agora, quando poderiam recuperar parte da dignidade, que nunca
deixaram de ter mas só porque era a deles e a seguraram bem na estreita ponte
do precipício social, quer Crato e sua comitiva tirar-lhes um direito, o
direito de viver uma nova vida, o direito de dar um pouco mais a si e aos seus.
A ir para a frente esta exigência dos anos consecutivos com horário completo
para vincular, estarão governo e organizações sindicais a condenar estes
colegas professores a uma prisão perpétua na instabilidade laboral, pessoal e, pior, a humilhá-los indefinidamente, o que deixará marcas muito difíceis de
superar por estes homens e mulheres que tanto têm dado de si à escola pública,
ao país, ao meu, ao teu, ao de Crato.
Agora a pergunta a Crato e comitiva:
-Quem vale mais, um professor que fez os tais cinco anos
completos consecutivos com horário completo, mas que só tem cinco anos de serviço (se tal fosse possível nos tempos que correm...)
ou um professor que trabalhou quinze mas sempre incompletos?
Solução para o aluno ver antes de responder:
-Valem ambos o mesmo, mas o segundo já tem uns
valentes cabelos brancos.
Fosse eu o Crato (que Deus me livre e guarde) e logo decidia uma resposta:
- Pelos quatro anos do primeiro e pelos cabelos brancos do
segundo, vincule-se os dois!
Às organizações sindicais exige-se que exijam pois!
Que exijam que todos os professores com quatro contratos
anuais com o ME, mesmo que incompletos sejam vinculados, pois a Diretiva
1999/70-CE o que refere é isso mesmo!
Que exijam que para essa contabilidade se tomem todos os
anos desde 2001, ano em que a diretiva devia ter tomado corpo de lei em
Portugal, mas que, sorrateiramente, os sucessivos governos se foram esquivando
de o fazer.
Portanto devem ser vinculados todos os professores que desde
2001 tenham acumulado quatro anos de contratos anuais, mesmo que com horário
incompleto (não deixa de ser um contrato anual!), com a mesma entidade patronal,
no caso o ME (e não com entidades externas).
Tudo o que for menos que estes termos é inaceitável!
AGORA FAÇA-SE JUSTIÇA!
Jorge Costa (Ex-Professor Contratado, Professor do Quadro há vinte anos, que efetivou num tempo em que os professores ainda eram respeitados!)
Jorge Costa (Ex-Professor Contratado, Professor do Quadro há vinte anos, que efetivou num tempo em que os professores ainda eram respeitados!)
Obrigado por continuares connosco, amigo Jorge. É nas alturas difíceis que os verdadeiros amigos se revelam, pois nunca nos viram as costas.
ResponderEliminarMuito, muito obrigada Jorge! Alguém que se preocupe connosco e que analise exaustivamente as nossas situações!! O que este (e outros) MEC nos têm feito passar! E vergonhoso, no mínimo, nunca nada, nem ninguém irá apagar as marcas quer físicas, como os cabelos brancos, quer psicológicas, essas muito mais enraizadas, que os longos anos dedicados ao ensino nos provocaram!
ResponderEliminarSinto-me triste, tenho mais de 16 anos de serviço distribuídos por quase 19, e não, não reuno as condições impostas pelo Crato! Mais uma vez ficarei chorosa e com vontade de desistir de vez de um sonho de menina!
Bem haja pela sua coragem, dedicação e persistência em denunciar o que verdadeiramente se passa neste país! Saudações cordiais.