Esta forma como o MEC vem impor a vinculação dos professores é absolutamente um conjunto de pedregulhos atirado aos olhos da opinião pública e, porventura ainda pior, à Comissão Europeia.
Senão vejamos:
Crato e a sua equipa quer que aceitemos que docentes. com
10, 15 ou 20 anos de serviço sejam excluídos de uma vinculação só por não terem
tido a sorte de cair numa escola TEIP ou outra equivalente na benevolência,
inquinada pelos amiguismos em concursos à medida do parente próximo ou do amigo
do amigo, onde lhes tivessem sido renovados contratos sucessivos.
Crato e a sua equipa querem que estes professores, muitos
com duas décadas de ensino cumpridos na angústia da precariedade e de horários
incompletos (muitos longe de casa sabe Deus Nosso Senhor onde), que não possam vincular
por falta dessa sorte das renovações aleatórias tal como aleatórias foram as
colocações em concursos idos.
Escalpelizando o teor da sacanagem do processo de vinculação
decidido para os não vinculáveis no corrente ano e que fiquem à espera de 2015, da história dos cinco contratos anuais seguidos e completos exigidos para
tal, suponhamos o seguinte cenário absolutamente possível:
Um professor (seja o José) que tenha três contratos ou até quatro
com horários completos e seguidos mas tenha intercalados outros incompletos e
novamente volte a ter mais 3 contratos seguidos completos e anuais, acrescendo
ao facto de este ano não ter tido a sorte de ficar com horário completo, apesar
de vergado pelos seus 20 anos de serviço ficará excluído da vinculação, melhor
dizendo, torna-se numa sombra do que já foi porque deixará de ter lugar pelo
mérito da velhice!
Pelo método de seleção agora imposto, haverá sempre um(a)
colega (seja a Maria) com menos anos de serviço e menor graduação profissional,
que vinculará só pelo facto de ter tido a sorte de cair numa escola com uma
Direção “simpática ou amiga, muito!...”, e que assim viu renovados os contratos
necessários, ano após ano. O Zé, o tal dos 20 anos de serviço, não vinculará, a
Maria sim!
Com as regras corruptas que estiveram em vigor nas
contratações de escola fabricadas a preceito pela tutela e gulosamente
aproveitadas por muitas Direções das escolas para dar emprego aos afilhados,
tudo pode acontecer agora como se vê!
A Maria até pode efetivar, mas o Zé TEM DE EFETIVAR, senão o mundo
estará virado às avessas!
Outra questão que se coloca prende-se com o facto de a
Diretiva 1999/70-CE impor a vinculação do trabalhador ao fim de quatro anos
sucessivos a contrato, que deveria ter sido aplicada em Portugal a partir de
2001. Em lado algum se exige que o trabalhador tenha que ter tido horário completo,
isso é uma invenção à boa maneira portuguesa para fugir às responsabilidades.
Ora, há também centenas senão milhares de professores que apesar de nunca terem
tido horários completos trabalham há mais de quatro anos para a mesma entidade
patronal, ou seja, o MEC, e muitos há nestas condições há mais de dez anos.
Então estes professores vão ser excluídos? Não podem!
Crato acha mesmo que os professores como o Zé, os Zés, se
vão calar com estas aberrações legislativas que os vão atirar para o desemprego?!
Não sabe Crato que muitos
destes professores têm filhos para criar, que são professores que estão na casa
dos 40-50 anos de idade e já perderam a paciência para lhes tirarem o emprego, enfim
uma parte imprescindível da sua dignidade?!
Quer Crato vincular todos aqueles
docentes que têm mais de quatro anos de serviço, ou prefere que comecemos já a
falar das indemnizações devidas a todos os milhares de professores que
estiveram a contrato desde 2001 apesar de terem mais de quatro anos de serviço
docente? Sim, este aspeto não está esquecido, como é óbvio!
Enfim, enquanto autor da petição
apresentada quer no parlamento nacional e que deu origem à Resolução 35/2010,
quer da apresentada no Parlamento Europeu em 2009 que deu origem a este processo
de vinculação extraordinária de professores, não aceitarei que os professores
contratados sejam ludibriados por um processo armadilhado que lhes rebentará
nas mãos ao longo dos próximos anos. Sim, porque da maneira que Crato quer, é
isso que se verificará, pois só excecionalmente os professores cumprirão os
requisitos da malha apertada deste processo de vinculação imposto.
Já se percebeu que ao chutar para a
frente a vinculação dos que vêm depois da vinculação extraordinária que se avizinha,
impondo 5 contratos anuais em horário completo, Crato e sua equipa querem
claramente de forma velada excluir o máximo de professores do sistema, mesmo
tendo mais de quatro anos de serviço.
A receita é simples: “se não queremos que
esses professores entrem nos quadros, vamos continuar a política de cortes a
direito nos currículos, de agregações de escolas, de aumento de alunos por
turma, etc, enfim a receita habitual, para evitarmos que haja emprego para
estes professores na calha da vinculação. E deixámos-los cair por essa via como folhas secas em tarde ventosa de outono, ponto
final!”
Crato e sua equipa estão profundamente equivocados. Os professores contratados estão com os olhos bem abertos e ouvidos
alerta mais que nunca, porque agora trata-se mesmo de sobrevivência
profissional e parte da outra.
Corrija-se Crato e conversamos a seguir!
Jorge Costa (Ex-Professor Contratado, Professor do Quadro há vinte anos, que efetivou num tempo em que os professores ainda eram respeitados!)
MUITO OBRIGADO JORGE!
ResponderEliminarAINDA EXISTEM PESSOAS SOLIDÁRIAS E PREOCUPADAS com a justiça social? Eu sou contratada há 16 anos, já investi noutra formação, tenho duas licenciaturas e um mestrado. Como moro na região centro, os horários escasseiam, pois os privados aqui cresceram como cogumelos, havia escolas públicas com milhares de alunos que agora tem umas dezenas, os privados ao lado estão cheios. Como vou conseguir horário completo aqui? Se for para Lisboa, Porto, Algarve, deixo o ordenado na estrada e alojamento. Porque não podem contar horários anuais incompletos? Se na minha zona esses horários incompletos são permanentes, só porque há menos turmas, não deviam ser considerados como completos? Quem nos garante que não fazem aquela estratégia de 2012 em que todos os horários da bolsa e ofertas de escola foram considerados temporários, tendo terminado em julho e renovados mensalmente, embora fossem anuais?
http://ivogoncalves.wordpress.com/2014/01/19/vinculacao-de-professores-a-falacia-do-tempo-completo/
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