Seria logo considerado um escândalo, pelo princípio de que em nenhuma
"democracia", para mais ocidental, alguma vez deverá ocorrer tal evento.
A
capoeira europeia ficaria em tamanho alvoroço pela inesperada ousadia dos que, em prol
da quebra da afronta à dignidade do povo que vai sobrevivendo muito abaixo do limiar do aceitável,
levassem por diante uma revolução não dos cravos mas dos...
A correria seria desnorteada pela capoeira fora com penas pelo ar, arrancadas pela ganância dos países de
crista e poupa levantada, os mais interessados na recolha de dividendos nesta
guerra de dinheiro sujo com o sangue lacrimal que tem assolado os países mais
frágeis.
A ousadia dos nossos militares poderia ser anunciada em voz
off por um daqueles comentadores de voz decidida, que ficaria na história
que passa:
"Daqui Comando Geral das Forças Armadas. Informamos todos os
Portugueses que o Movimento renovado das Forças Armadas ao início da Madrugada
deste dia tomou os Palácios de Belém e de S. Bento, em simultâneo com a tomada das Embaixadas
dos países agressores, a saber: Embaixada da ... Embaixada da..."
E prosseguiria:
“O objetivo desta tomada das
embaixadas destina-se a fazer ver aos países agressores que nunca mais
toleraremos que nos bombardeiem com ogivas financeiras nem que tomem a nossa terra onde
o nosso povo agonia com o peso dos juros da dívida pública nas antecâmaras da
morte da mais antiga nação europeia”.
A azáfama começaria nos meios diplomáticos para reclamar que
fosse reposta a legalidade e os militares recolhessem imediatamente aos
quarteis. O bloqueio começa! Os poderosos da Europa e os EUA de um lado
imporiam um vasto grupo de sansões. Do outro lado, a Venezuela, Cuba e talvez a
Coreia do Norte e o Irão, declarariam o apoio aos irmãos portugueses, com
promessas de auxílio energético, e sobretudo muito apoio moral (!). Mas os
revoltosos recusariam estas cortesias de imediato, porque a linha seria outra…
Os militares que saíssem dos quartéis e a sociedade civil
revoltosa, obviamente não acolheriam de braços abertos estes apoios. Mas o
certo é que o cenário poderia ser completamente diferente, e é provável que o
fosse, pois aos países credores só faltava mais agora que um país pequeno, ainda
por cima da periferia do galinheiro, lhes viesse estragar os planos de
enriquecimento ilícito, baseado na tradicional postura de espremedores de povos
economicamente indefesos.
Certamente que se acontecesse um golpe militar em Portugal,
os nossos “meios-irmãos” europeus, em particular os da outra Europa os
nortenhos, os do gelo emocional, tremeriam do gélido frio do medo emanado por esta
pequena lareira do sudoeste, com ameaça de rápido alastramento ao confortável
tapete de pelo de rena, e progressivo derretimento do cadeirão das economias credoras
mais fortes.
Os espanhóis, embora não o dizendo abertamente, iriam apreciar
esta atitude dos portuguesitos revoltosos e, rapidamente, começariam a ponderar
avançar numa contenda de contornos idênticos, mas eventualmente mais bravos
como o é esse povo, o que tornaria a chama aflitivamente mais intensa.
Ou seja, a Ibéria poderia mudar outra vez o mundo(!), mas
agora despoletando um rearranjo da economia do global, ficando por isso para a
história como os países que deram outra vez novos mundos ao mundo, porque se a
coisa resultasse cá, noutras bandas longínquas seria tomada como exemplo, com a
vantagem de uma nova configuração no mapa de justiça social.
Para acontecer um cenário destes era necessário que o nosso
povo soubesse sacrificar-se por uns tempos, pois de início o aperto iria ser
grande, quando os senhores do dinheiro fechassem a torneira, pois é a única
arma que conhecem. Num contexto desses, teríamos um caos semelhante ao de uma
guerra convencional.
Vivemos portanto no fio da navalha. Se quiséssemos rapidamente
mudar as coisas seria por aí, com custos de vidas humanas significativos, só
superáveis com um tsunami de
solidariedade no seio da sociedade. Mas como quando a coisa aperta, fica o
instinto de sobrevivência, nem por aí se evitaria a perda de muitas vidas.
Portanto, há o outro cenário, o que vivemos atualmente, um
cenário de uma guerra encoberta pela “legalidade” do regime político, num país
envergonhado do seu passado recente, sem pretensões revolucionárias, onde se
situam os maiores campos de concentração da Europa, as nossas vilas e cidades
famintas!
O que é que queremos? Um país ocupado e servil ou em guerra
pela libertação com todos os custos que isso implicaria?
Não estamos em tempos de golpes militares, mas estamos numa
época de golpes financeiros contra os opressores. Só que as opções teriam de ser
não só de um país isolado, mas de uma união entre países do sul, que dissessem claramente e em uníssono que não pagariam uma dívida baseada em lucros
estonteantes dos credores. E a coisa tremeria até aos alicerces!
Portanto estamos numa guerra financeira, com custos
idênticos ao de um conflito mundial, sem tanques nem armas nucleares, em que os
agressores querem ganhar muito dinheiro à custa de milhões de vidas.
Quem vai vencer esta guerra limpa de sangue à vista, onde nunca
serão contabilizadas as vítimas?
Em que tribunal internacional serão julgados estes
criminosos de guerra?!